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Comunicação é tudo hoje em dia! Saiba mais como, quando e o que usar para se comunicar em montanhas

Texto: Maximo Kausch

Cada vez mais, mesmo nos locais mais remotos, o homem vem conseguindo suprir uma de suas maiores necessidades que é a de se comunicar. Desde as montanhas, do banheiro, da lua ou mesmo desde as profundidades oceânicas, conseguimos mandar um “oi” para as pessoas queridas e mentir um pouco a respeito da nossa situação.

Televisões, telégrafos, telefones celulares, GPS, todos usam ondas de rádio, mas com potências e freqüências diferentes. Os avanços tecnológicos os tornaram cada vez menores e mais potentes. Após as guerras mundiais, a comunicação explodiu como uma bomba, serviços de resgates se organizaram e começaram a operar em determinadas freqüências na qual qualquer um pode pedir ajuda. Jamais, tantas ondas electromagnéticas de pessoas se comunicando cruzaram os nossos céus e jamais tantas pessoas falaram tantas coisas inúteis. Em montanhas e ambientes remotos, a comunicação ainda é “rudimentar” considerando-se a telefonia celular que existe nas zonas habitadas. Eis algumas possibilidades que você tem para utilizar este “rudimentar” meio de comunicação:

Rádios VHF

É uma das faixas mais utilizadas em comunicação com rádios portáteis, varia de 30 a 300 MHz (ondas de 10 a 1 metros), mas a maioria dos transmissores/receptores em VHF trabalha limitada entre 144 e 148 MHz (ondas de 2 metros). Além do seu melhor custo/benefício, estas ondas são bem vantajosas nas montanhas. São menos absorvidas por elementos naturais na montanha e há uma maior chance de serem refletidas em obstáculos naturais. A relação peso/potência/desempenho é uma das melhores considerando-se outros tipos de comunicação em montanhas.

Rádios UHF

Operam entre as frequências 300 Mhz a 3 GHz. Celulares, GPS, alguns rádios portáteis, etc, todos operam em UHF. É uma faixa muito ampla e com características peculiares. Por terem uma onda relativamente pequena (entre 10 cm e 1 metro), você não precisa de uma antena grande como a de um rádio VHF (que nem é tão grande assim) e conseqüentemente, menos potência para transmitir. Você vai economizar em peso e carga elétrica, mas vai ter a desvantagem de ter muito mais perca de sinal na atmosfera. Como é uma onda menor, ela pode ser absorvida com maior facilidade por neve, gelo ou vapor d´água, e assim, não chegando ao receptor. Ondas de altas freqüências (ondas pequenas e as microondas) conseguem mudar o estado de agitação (temperatura) de certas moléculas pequenas presentes na atmosfera. É por isso que ao dirigir ondas em freqüências altíssimas à água ou alimentos, conseguimos esquentá-los, que é o caso do forno microondas. Mesmo em situações em que você não tem obstáculos entre o outro rádio, haverá perca de sinal.

Sem obstáculos entre o transmissor e o receptor, você não vai alcançar mais que 4 km usando TalkAbouts® de 0.5 W. Os rádios UHF são uma boa opção para escalada em rocha ou comunicações que não fujam de 200 metros de distância. Qualquer idiota pode operar um rádio UHF, já que geralmente, eles trabalham por canais e o usuário não precisa saber que freqüência está trabalhando. De seguranças de supermercado, escaladores em rocha ou rapeleiros que acham necessário levar um rádio TalkAbout® na cintura, prefira a faixa UHF.

E os celulares?

Celulares também operam em UHF, mas em freqüências bem maiores (entre 860 e 900 MHz). Para escalar em lugares como os Alpes ou montanhas próximas de cidades é até mais barato, prático e sensato levar um celular com você. Uma vez, no cume do Mont Blanc, testemunhei uma pessoa falando por telefone celular “.. Oi mãe, estou no cume!!…”, provando a vantagem destes. Mas se a sua intenção é passar dos 5000 e se isolar um pouco mais, prefira os rádios de mão. Ainda existe a possibilidade de levar telefones satelitais e falar com a sua mãe por 3 dólares por minuto, isso se você conseguir se conectar.

E para quê eu preciso saber o tamanho da onda?

Sabendo o tamanho “físico” da onda, você pode saber como ela se comporta e buscar a freqüência que mais se adapte à sua necessidade. Além disso, você descobrir qual é o tamanho da antena mais eficiente para você. Para calcular o tamanho da onda, é só se dividir a velocidade da luz pela freqüência:

Comprimento da onda (metros) = 300.000 (km/s) / freqüência (KHz)

Por exemplo, se você quiser transmitir longe, refletindo suas ondas na ionosfera terrestre, vai precisar de ondas grandes, em média de 11 a 120 metros. Trata-se das chamadas ondas curtas, na qual se encontra o popular PX e uma infinidade de aparelhos.

Alcance X Potência

A primeira coisa que queremos saber sobre um rádio de mão, é qual é o alcance dele. Isso vai depender onde você estiver usando ele. Já alcancei mais de 8 km usando um pequeno TalkAbout® de 1/2 W de potência, mas também tive a conversa interferida por uma montanha, sendo que meu amigo estava a nem 200 metros de distância.

Em montanhas, com um transmissor/receptor de 5W, operando entre 144 e 148 MHz, você não vai passar de alguns quilômetros em condições normais (acidentes geográficos), mas se estiver num cume com visão a 360 graus, você ficará impressionado com o que irá alcançar. Nessa freqüência, a onda não acompanhará a curvatura terrestre como as “ondas curtas” (de 3 a 30 MHz), mas mesmo assim, ela não irá se perder a menos de uma centena de quilômetros de onde foi originada.

Por ser uma freqüência relativamente “justa” (custo do equipamento, peso e alcance relativo), é muito usada como telefonia rural. Na Argentina, Uruguay y Chile, por razões econômicas, essa tecnologia se expandiu para dentro das cidades e ganhou milhares de adeptos. Existem centrais que comunicam os associados a números de telefone ou vice-versa. Isso permite comunicar alguém que está isolado numa montanha por exemplo a um telefone, usando apenas um rádio VHF de 400 gramas.

Em contraste, existem transmissores/receptores de 10 W que são realmente pesados e tem que ser carregados nas costas. O exército inglês chegou a usar rádios de 8 W de potência e estes pesavam 2,3 Kg!!! E o pior é que foram feitos para serem rádios individuais de mão!!

Legislação

Cada país tem a sua legislação e limitação de freqüências de TVs, celulares e transmissores, mas o que importa a nós são os VHFs de 2 metros. Geralmente, estes são liberados entre 144 e 148 Mhz, no entanto, em lugares onde há muitas transmissões simultâneas em pequenos espaços, como a Europa, a maioria dos países limita os rádios entre 144 e 146 Mhz. O grande problema de escaladores que escalam em diferentes partes do globo é exatamente isso. Por exemplo, se você for escalar o Aconcágua, na Argentina, vai precisar falar ao redor de 142 Mhz, em certas montanhas do Himalaya, várias expedições se organizam para transmitir e receber em 172 Mhz. Então, o que fazer?

A grande maioria dos rádios tem uma proteção que pode ser desativada por software. Alguns deles não oferecem esta opção e você vai ter que abrí-los e soldar ou dessoldar algum resistor ou ponte. Ao desativar a proteção, o rango de freqüências vai aumentar e você vai poder usar o seu equipamento em qualquer parte do mundo. Dependendo do equipamento, este vai funcionar entre 100-200 Mhz, ou ficar limitado entre 140-174 Mhz (o que é muito mais do que você precisa).

Obviamente, “abrir um rádio” é ilegal e você pode ir preso. A razão, é que a grande parte das autoridades também trabalha em VHF e interferir com estas pode pôr vidas em risco. Vôos comerciais também trabalham em VHF. Como montanhista responsável, você vai usar o bom senso na hora de transmitir. A idéia é usar o seu VHF somente em montanhas e não em cidades interferindo com o trabalho das autoridades e vôos comerciais. Para não ter problemas, jamais transporte um VHF com baterias e antena colocadas. Leis aeroportuárias geralmente especificam as condições de transportes de rádios. Se você não sabe a legislação do país onde você vai escalar, o ideal é nem mencionar que você está transportando um VHF. No Nepal por exemplo, se as autoridades souberem que você tem um VHF, eles irão reter o seu equipamento e somente liberá-lo após você preencher 3 formulários e pagar uma taxa. Nunca tive problemas com meus transmissores, tampouco interferi com autoridades.

Frio, mais um problema

Ao estar na montanha e fizer frio extremo, de nada vai adiantar você ter um rádio se estiver levando-o exposto ao frio. Já vi máquinas fotográficas mecânicas travarem e lentes de cristal líquido pararem de funcionar. Geralmente isso ocorrer abaixo de -25 graus celsius. É realmente absurdo o que acontece com aparelhos eletrônicos a frios extremos. Uma má idéia é colocá-los junto ao corpo quando os equipamentos ainda estão “congelados”. A transpiração e vapor d´água presentes no corpo tendem a condensar nas partes mais frias do aparelho que consequentemente, podem ser as internas, como circuito, componentes eletrônicos, lentes, etc. O mais sensato a se fazer, é levá-los junto ao corpo desde o começo e somente expô-los ao ambiente na hora de usar. Numa montanha, o seu rádio é a sua vida. Durma com ele, mais especificamente, com as baterias.

Baterias

Baterias alcalinas normais são muito sensíveis ao frio, mas baterias de lítio, ao contrário, não tem perda de carga aparente. A respeito das alcalinas, prefira as de Ni-MH, já que além de suportarem melhor o frio, poder ser recarregadas desde sem terem que ser descarregadas primeiro como as de Níquel-Cádmio. Faça tudo o possível para economizar baterias em montanhas, já que a parte mais pesada do rádio são elas. Algumas formas de economizar são as de combinar horas para falar e “trocar figurinhas” com os outros a respeito de suas situações e aproveitar para fofocar um pouco. Tempestades ou longas nevascas são um peso a mais para descarga das baterias. Às vezes, durante tempestades, as horas de depressão nos atingem e acabamos desabafando por rádio. Uma boa saída, são os carregadores solares. Alguns deles pesam menos de 200 gr e carregam até 12 V a 350 mA.

Alguns rádios permitem você mudar a potência de saída, o que irá interferir diretamente na distância que a transmissão alcançará. Mas isso é uma mão na roda se você precisa economizar bateria, está com preguiça e tem que falar com o seu amigo que está numa barraca a 20 metros da sua. Numa situação dessas, você não vai precisar transmitir em 5W obviamente. Se o seu grito não alcançar, poupe a bateria e mude a potência de saída para o menor possível, se o seu rádio tiver essa opção. Alguns equipamentos se regulam automaticamente, dependendo da intensidade do último sinal recebido.

Tudo pronto, transmita

Assim que você tiver um meio de se comunicar com seus entes queridos e já estiver na montanha escalando e sofrendo de frio, fome e dor… minta, não deixe eles preocupados!…

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